sexta-feira, 14 de junho de 2013



Quando, em 2 de novembro de 2002, cheguei à Universidade de Lancaster, sem mala, que se perdera no trajeto Porto – Londres -Manchester, estava longe de perceber que iria aí passar quase quatro anos de inteira liberdade para imaginar, pensar, falar, trocar ideias e, sobretudo, traçar caminhos entre avenidas de conhecimento e livremente escolher aquele que me levou ao doutoramento. Era ao anoitecer e eu perdia-me e encontrava-me no campus universitário, que me parecia labiríntico, à procura do alojamento que, à distância, marcara no Graduate College.

Quando, finalmente, me instalei no meu quarto, olhei ao meu redor e, interrogando-me onde me levaria aquela mudança da minha vida, resolvi enfrentar tudo com a alegria de uma aventura. Porém, não conseguia antever como seguiria a minha investigação nem tão pouco considerava a importância da contribuição da comunidade académica onde acabava de chegar.

Ao princípio, deslumbrei-me com a quantidade de novos amigos que, sempre ali mesmo ao meu lado, fazia doutoramentos e mestrados nas mais variadas áreas, dois deles até investigavam em Simulação Computorizada, a minha área, embora os tópicos fossem diferentes. Eram todos pessoas interessantes com conhecimentos profundos das suas especialidades e com visões do mundo curiosas que assentavam em culturas e vivências muito diversas. O Graduate College era como a Assembleia das Nações Unidas onde quase todos os países tinham representação.
Nesse ano, partilhei o apartamento com uma malaia, duas chinesas, uma singapurense, um alemão e um letão. Três destes concluímos doutoramentos em Lancaster, dois, mestrados e os outros dois, MBA. Conversávamos enquanto preparávamos as refeições na cozinha que partilhávamos e, depois de jantar, com muitos outros amigos, no bar ou na sala de jogos do colégio. Em cada conversa, fervilhavam ideias inspiradas pelos dias passados a ler e escrever artigos científicos ou a tentar definir modelos que emulassem de modo simples a realidade. Brincávamos com as ideias e as palavras e, sem intenção, construíamos uma comunidade que, mesmo no bar, desafiava as nossas capacidades