Quando,
em 2 de novembro de 2002, cheguei à Universidade de Lancaster, sem mala, que se
perdera no trajeto Porto – Londres -Manchester, estava longe de perceber que
iria aí passar quase quatro anos de inteira liberdade para imaginar, pensar,
falar, trocar ideias e, sobretudo, traçar caminhos entre avenidas de
conhecimento e livremente escolher aquele que me levou ao doutoramento. Era ao
anoitecer e eu perdia-me e encontrava-me no campus universitário, que me
parecia labiríntico, à procura do alojamento que, à distância, marcara no Graduate College.
Quando,
finalmente, me instalei no meu quarto, olhei ao meu redor e, interrogando-me
onde me levaria aquela mudança da minha vida, resolvi enfrentar tudo com a
alegria de uma aventura. Porém, não conseguia antever como seguiria a minha
investigação nem tão pouco considerava a importância da contribuição da
comunidade académica onde acabava de chegar.
Ao
princípio, deslumbrei-me com a quantidade de novos amigos que, sempre ali mesmo
ao meu lado, fazia doutoramentos e mestrados nas mais variadas áreas, dois
deles até investigavam em Simulação Computorizada, a minha área, embora os tópicos
fossem diferentes. Eram todos pessoas interessantes com conhecimentos profundos
das suas especialidades e com visões do mundo curiosas que assentavam em
culturas e vivências muito diversas. O Graduate
College era como a Assembleia das Nações Unidas onde quase todos os países
tinham representação.
Nesse ano, partilhei o
apartamento com uma malaia, duas chinesas, uma singapurense, um alemão e um
letão. Três destes concluímos doutoramentos em Lancaster, dois, mestrados e os outros
dois, MBA. Conversávamos enquanto preparávamos as refeições na cozinha que
partilhávamos e, depois de jantar, com muitos outros amigos, no bar ou na sala
de jogos do colégio. Em cada conversa, fervilhavam ideias inspiradas pelos dias
passados a ler e escrever artigos científicos ou a tentar definir modelos que
emulassem de modo simples a realidade. Brincávamos com as ideias e as palavras
e, sem intenção, construíamos uma comunidade que, mesmo no bar, desafiava as
nossas capacidades